Fadiga
O Que É?
A fadiga é um sintoma comum inespecífico com uma ampla gama de etiologias, incluindo distúrbios médicos agudos e crônicos, condições psicológicas, toxicidade de medicamentos e uso de substâncias.
O termo “fadiga” pode ser usado para descrever a dificuldade ou incapacidade de iniciar a atividade (sensação subjetiva de fraqueza); capacidade reduzida de manter a atividade (fácil fatigabilidade); ou dificuldade de concentração, memória e estabilidade emocional (fadiga mental)
De 21% a 33% dos pacientes que nos procuram no consultório descrevem a fadiga como um problema importante ou é a queixa principal, resultando em aproximadamente sete milhões de consultas por ano nos Estados Unidos. A fadiga é relatada mais comumente em mulheres do que em homens.
Uma pesquisa transversal com trabalhadores dos Estados Unidos descobriu que a fadiga com duração de duas semanas era de 38%, representando um custo anual superior a US $ 136 bilhões em tempo de trabalho produtivo perdido.
O Que Causa?
Podemos encontrar na literatura, no mínimo, 38 causas diferentes para cansaço crônico.
Seguem algumas possibilidades divididas por sistema:
- Coração / Pulmão – insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crônica, apneia do sono
- Hormonais / Metabólicas – Hipotireoidismo, hipertireoidismo, doença renal crônica, doença hepática crônica, insuficiência ou fadiga adrenal, anormalidades eletrolíticas
- Sangue / Câncer – Anemia, malignidade oculta
- Infecções – mononucleose, hepatite viral, HIV, endocardite bacteriana, tuberculose etc.
- Reumatológicas – fibromialgia, polimialgia reumática, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren
- Psicológicas – depressão, transtorno de ansiedade, transtorno de somatização
- Neurológicas – esclerose múltipla
- Medicamentos – benzodiazepínicos, antidepressivos, relaxantes musculares, anti-histamínicos, beta-bloqueadores, opioides
- Uso de substâncias – álcool, maconha, opioides, cocaína / outros estimulantes
Na minoria de casos, a queixa apresentada de fadiga crônica é explicada pela síndrome da fadiga crônica, um distúrbio de causa desconhecida, mas com forte evidência de disfunção neurológica. Pacientes que não atendem aos critérios para SFC e não têm outra explicação para sua fadiga são considerados portadores de fadiga crônica idiopática. Ambas as condições são diagnósticos de exclusão.
Uma avaliação geral de saúde é necessária para encontrar e tratar adequadamente cada caso. Agende Aqui
Como descobrir?
Devido grande variedade diagnóstica não é de se espantar que muitas vezes haja dificuldade no descobrimento da causa base que está gerando o cansaço crônico no paciente. Além disso a queixa constante de fadiga muitas vezes é confundida com estresse, preguiça, frescura e desinteresse. Tal confusão pode levar o paciente a negligenciar os sintomas e, ao procurar assistência médica, não dar o destaque necessário. Outro fator que dificulta a avaliação é o costume dos pacientes em procurar especialistas para sintomas vagos ao invés de generalistas com olhar mais abrangente.
A chave para um diagnóstico correto é verificar cautelosamente os dados clínicos de cada paciente e a complementação com exames precisos.
Desafios diagnósticos
Pacientes com sintomas específicos – Exames adicionais devem ser feitos conforme achados da história ou exame físico ou teste laboratorial inicial anormal. Por exemplo, um paciente que apresenta fadiga associada a febre ou calafrios, suores noturnos e dores musculares pode fazer hemoculturas e um ecocardiograma para avaliação de possível endocardite bacteriana. Um paciente que apresenta testes de função do fígado anormais deve fazer sorologias para hepatite viral e realizar uma ultrassonografia de abdome.
Um outro paciente com cansaço excessivo e dores nas articulações pode ter artrite reumatóide e necessitará de avaliação articular e exames laboratoriais específicos.
Em pacientes com uma condição médica identificada recentemente que pode ser responsável pela fadiga, é importante monitorar sua resposta ao tratamento. Caso não haja melhora, existe a possibilidade de que a causa da fadiga seja outra.
Pacientes sem sintomas específicos – Uma reavaliação de um a três meses para repetir a investigação é indicada para revisar a análise e observar evolução do quadro.
Mesmo que seja improvável que estudos diagnósticos adicionais em pacientes sem achados específicos na história ou exame físico encontrem facilmente a origem do problema, uma análise mais detalhada pode ser interessante se interpretada corretamente por um profissional competente, dado que ao solicitar mais exames a chance de erro laboratorial ou de imagem aumente e há necessidade de cautela na avaliação dos dados.
Pacientes que permanecem sem diagnóstico com uma condição identificável após seis meses são classificados como Síndrome de Fadiga Crônica (SFC) se atenderem aos critérios diagnósticos ou tendo fadiga crônica idiopática. Ambas as condições são diagnósticos de exclusão.
SFC representa uma minoria de pacientes com fadiga crônica. Em um estudo com mais de 4.000 pacientes, a prevalência variou de 75 a 267 casos por 100.000 pessoas, enquanto a prevalência de fadiga crônica idiopática variou de 1.775 a 6.321 casos por 100.000 pessoas. Os sintomas da SFC devem estar presentes por pelo menos seis meses e ter intensidade moderada, substancial ou grave em pelo menos metade do tempo.
Como Tratar?
O tratamento correto de qualquer doença exige o diagnóstico certo previamente. Portanto, sempre faça uma avaliação com profissional competente.
Cada causa de base terá seu tratamento específico como reposição hormonal, combate a infecção, tratamento do câncer, anti-hipertensivos, correção de anemia e assim por diante.
A abordagem da SFC, até a presente data, envolve uma terapia multiprofissional com medicações anti-depressivas, terapia cognitivo comportamental e exercício físico. Conforme os seguintes dados:
- Antidepressivos – O uso de medicamentos antidepressivos tem se mostrado eficaz em pacientes com sintomas crônicos inexplicáveis Não é esperado um efeito imediato da terapia com antidepressivos e a dose do tratamento pode necessitar de ajustade ao longo de várias semanas antes que sua resposta possa ser avaliada com precisão. Mesmo assim pode não haver uma melhora satisfatória do quadro.
- Terapia cognitivo-comportamental – a TCC pode ser útil em alguns pacientes com fadiga crônica idiopática. Os componentes da TCC incluem a explicação do modelo para fadiga crônica, crenças desafiadoras e consciência da fadiga e reorientação dessas crenças, realização de metas de atividade física e outras metas pessoais, e ajuda ao paciente a obter controle sobre os sintomas.
- Atividade Física – A terapia por exercício pode ser útil em alguns pacientes com fadiga crônica idiopática. É baseado em um modelo fisiológico de descondicionamento. Ao contrário da TCC, a terapia com exercícios não trata da cognição. Um estudo comparou exercícios e TCC em pacientes com mais de três meses de fadiga inexplicada e mostrou eficácia comparável. Portanto deve ser encorajado sempre.
Em resumo não é um tarefa simples diagnosticar e tratar fadiga crônica, evite tomar remédios para cansaço aleatoriamente sem avaliação médica tais como prednisolona, chá caseiros para cansaço respiratório
Referências
- Palliative management of fatigue at the close of life: “it feels like my body is just worn out”. Markowitz AJ, Rabow MW JAMA. 2007;298(2):217.
- Prevalence of fatigue and chronic fatigue syndrome in a primary care practice. Bates DW, Schmitt W, Buchwald D, Ware NC, Lee J, Thoyer E, Kornish RJ, Komaroff AL Arch Intern Med. 1993;153(24):2759.
- The prevalence of symptoms in medical out patients and the adequacy of therapy. Kroenke K, Arrington ME, Mangelsdorff AD Arch Intern Med. 1990;150(8):1685.
- The epidemiology of fatigue and depression: a French primary-care study. Fuhrer R, Wessely S Psychol Med. 1995;25(5):895.
- Chronic fatigue in primary care. Prevalence, patient characteristics, and outcome. Kroenke K, Wood DR, Mangelsdorff AD, Meier NJ, Powell JB JAMA. 1988;260(7):929.
- Frequency of ‘chronic active Epstein-Barr virus infection’ in a general medical practice. Buchwald D, Sullivan JL, Komaroff AL JAMA. 1987;257(17):2303.
- National Ambulatory Medical Care Survey: 1989 summary. Schappert SM Vital Health Stat 13. 1992;
- Fatigue in the U.S. workforce: prevalence and implications for lost productive work time. Ricci JA, Chee E, Lorandeau AL, Berger J J Occup Environ Med. 2007;49(1):1.
- The chronic fatigue syndrome: a comprehensive approach to its definition and study. International Chronic Fatigue Syndrome Study Group. Fukuda K, Straus SE, Hickie I, Sharpe MC, Dobbins JG, Komaroff A Ann Intern Med. 1994;121(12):953.
- Chronic fatigue, chronic fatigue syndrome, and fibromyalgia. Disability and health-care use. Bombardier CH, Buchwald D Med Care. 1996;34(9):924.
- IOM (Institute of Medicine). Beyond Myalgic Encephalomyelitis/Chronic Fatigue Syndrome: Redefining an Illness. Washington, DC: The National Academies Press; 2015 http://www.iom.edu/mecfs
- Antidepressant therapy for unexplained symptoms and symptom syndromes. O’Malley PG, Jackson JL, Santoro J, Tomkins G, Balden E, Kroenke K J Fam Pract. 1999;48(12):980.
- Is graded exercise better than cognitive behaviour therapy for fatigue? A UK randomized trial in primary care. Ridsdale L, Darbishire L, Seed PT Psychol Med. 2004;34(1):37.