Flora Intestinal e Fibromialgia
Artigo evidenciou alterações na flora intestinal de pacientes com Fibromialgia em relação ao grupo controle, entenda como isso pode mudar o curso do tratamento e do diagnóstico.
O que é Fibromialgia?
A fibromialgia (FM) é uma síndrome caracterizada por dor crônica generalizada, fadiga e sono prejudicado de difícil diagnóstoco e tratamento.
O que causa?
A fisiopatologia da FM ainda não está bem estabelecida, com várias hipóteses formuladas, por exemplo um processamento inadequado da dor no sistema nervoso central, alterado a percepção da dor e provocando inflamação sistêmica. Atualmente é classificada como doença reumatológica.
Como saber se tenho Fibromialgia?
O diagnóstico de FM é baseado num grupo de sintomas, enquanto exclui outras causas de dor. Os 30 critérios de diagnóstico para FM baseiam-se apenas na história clínica. A falta de critérios diagnósticos objetivos é uma fonte de frustração entre pacientes e médicos. Também é uma possível razão para diagnósticos errados como demonstrado em 2 estudos a taxa de falso-positivo é de 66% a 73%. Uma avaliação clinica detalhada é ainda a melhor forma de fazer um diagnóstico correto, por hora, não existem exames confirmatórios.
O que é a flora intestinal?
Flora intestinal ou microbiota intestinal são os microrganismos, incluindo bactérias e fungos que vivem no trato digestivo de humanos e outros animais.
O que a flora intestinal tem a ver com outras doenças?
Nos últimos anos, as evidências estão aumentando sobre o papel do microbiota intestinal em uma variedade de doenças metabólicas, cardiovasculares, oncológicas, neurológicas inclusive distúrbios psiquiátricos. Contudo, ainda falta um melhor entendimento do funcionamento dessas relações.
Qual a relação com a dor?
Os estudos em humanos até agora se concentraram em alterações da microbiota intestinal em vários distúrbios de dor abdominal, mostrando alterações consistentes em na síndrome intestino irritável e em pacientes que sofrem de doenças crônicas como dor pélvica. Também já existem estudos correlacionando a síndrome de fadiga crônica, que tem características semelhantes da FM, com o microbioma intestinal alterado.
Qual a nova descoberta?
A flora intestinal de 77 mulheres com fibromialgia foi comparada com a de 79 participantes de controle utilizando sequenciamento genético e aprendizado do inteligência artificial para realizar a análise matemática. Diversas diferenças significativas foram reveladas em nas diferenças da flora intestinal.
Faecalibacterium prausnitzii é uma bactéria que, em pesquisas anteriores, demonstrou ser depletada em várias doenças intestinais.
Uma abundância de Bacteroides uniformis, Prevotella copri já são associadados à artrite inflamatória. Além disso, o Bacteroides uniformis foi detectado no tecido articular com osteoartrite e o Prevotella copri no líquido sinovial da artrite reumatóide.
No entanto, essas espécies estavam em menor abundância nos pacientes com fibromialgia, questionando considerações anteriores da fibromialgia como uma doença reumatológica.
As espécies que apresentaram maior abundância em pessoas com fibromialgia incluíram Intestinimonas butyriciproducens, Flavonifractor plautii, Butyricoccus desmolans, Eisenbergiella tayi, Eisenbergiella massiliensis e Parabacteroides merdae.
Os níveis séricos de ácido butírico foram significativamente maiores e os níveis de ácido propiônico foram menores no grupo de fibromialgia versus o grupo de controles.
Houve também uma correlação significativa entre as medidas de gravidade da doença, incluindo intensidade e distribuição da dor, fadiga e sintomas cognitivos e as alterações da flora.
Pode ter sido ao acaso? Como saber se isso é verdade?
A variação na composição dos microbiomas relacionada à FM foi mais significativa do que qualquer outra variável inata ou ambiental.
De acordo com a alteração observada nas espécies de metabolização de butirato, a análise de metabólitos séricos verificou diferenças no soro níveis de butirato e propionato em pacientes com FM, a composição do microbioma por si só permitiu o classificação de pacientes e controles. Esta é a primeira demonstração de alteração do microbioma intestinal na dor não visceral. Este achado abre caminho para novos estudos, elucidando a fisiopatologia da FM, desenvolvendo subsídios diagnósticos e, possivelmente, permitindo que novas modalidades de tratamento sejam exploradas.
Qual o impacto dessa descoberta?
Caso novos estudos confirmem os achados desse e possam fornecer mais detalhes, existe a possibilidade de tratar fibromialgia com dietas específicas e reposição de flora intestinal específica sem a necessidade de medicações psicotrópicas.
Também existirá uma maneira de confirmar o diagnóstico com exame complementar de análise de flora e dosagem de butirato por exemplo.
Referência
Minerbi A, Gonzalez E, Brereton NJB, Anjarkouchian A, Dewar K, Fitzcharles MA, Chevalier S, Shir Y. Altered microbiome composition in individuals with fibromyalgia. Pain. 2019 Nov;160(11):2589-2602. doi: 10.1097/j.pain.0000000000001640. PMID: 31219947.