Ansiedade Generalizada

Ansiedade Generalizada

Ansiedade Generalizada O que é ?

Condição psíquica na qual predomina uma preocupação excessiva e persistente que é difícil de controlar, causa sofrimento ou prejuízo significativo e ocorre em mais dias do que não por pelo menos seis meses. Outras características incluem sintomas psicológicos de ansiedade generalizada(CID-10 F411), como apreensão e irritabilidade, e sintomas físicos (ou somáticos) de ansiedade, como aumento de fadiga e tensão muscular.

O que é a Crise de Ansiedade?

A crise de ansiedade, é um momento de exacerbação do quadro ansioso latente que pode culminar em diversos sintomas clínicos como tremores, mal estar, palpitações, sensação de desmaio, sudorese, náuseas, formigamentos pelo corpo entre outros. Caso o paciente manifeste uma intensidade tão grande de sintomas que manifeste sensação de morte iminente com pensamentos calmitosos se caracteriza então o transtorno do pânico (CID-10 F410).

Epidemiologia

Países com alto índice de desenvolvimento

Os dados do número de pessoas com ansiedade generalizada variam muito a depender de cada região do globo, devido uma série de fatores, como estilo de vida, cultura, situação socio-econômica entre outros. Estimá-se que a prevalência entre adultos americanos de 18 a 64 anos de idade é de 2,9% e 3,1%, sofram de ansiedade. Nesta população, a prevalência ao longo da vida é de 7,7% em mulheres e 4,6% em homens. Outros estudos apontam uma variação entre 5,1 por cento a 11,9 por cento. Na Europa a prevalência varia entre de 4,3 a 5,9 por cento. Já nos países nórdicos, as taxas de ansiedade variam 4,1 a 6,0 por cento entre os homens e 3,7 a 7,1 por cento entre as mulheres. Podemos observar de modo geral que o distúrbio é aproximadamente duas vezes mais comum em mulheres do que em homens e é provavelmente o transtorno mais comum entre a população idosa.

Países com baixo índice de desenvolvimento

Em países em situação de guerra e conflitos constantes a prevalência chega a atingir aprox. 20% de toda a população. No Brasil, em 2016, um levantamento feito pela OMS registrou 18 657 943 Brasileiros sofrendo de ansiedade, representando 9,3% da população, rendendo ao Brasil o título de país mais ansioso do mundo. Devido o cenário pandêmico e econômico a estimativa deve ser muito maior nos dias atuais.

Transtornos associados

Um paciente que sofre de ansiedade generalizada tem altas chances de ter mais um transtorno psicológico associado em uma pesquisa nos Estados Unidos, 66% dos indivíduos tinham pelo menos um transtorno concomitante, sendo estes os mais frequentes:

Fobia social – 23,2 e 34,4%

Fobia específica – 24,5 e 35,1%

Transtorno de pânico – 22,6 e 23,5%

A ansiedade generalizada também pode estar associada a taxas aumentadas de abuso de drogas, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.

Por que uma pessoa desenvolve ansiedade Generalizada?

Não existe uma resposta única para essa pergunta e o caminho para o entendimento passa por diversos fatores, cada pessoa tem uma arquitetura biológica própria com uma história de vida totalmente única. Os pesquisadores ao longo dos anos vem reunindo alguns aspectos relevantes que podem indicar evidências concretas dos motivos pelos quais se desenvolver ansiedade tais como:

Biológicos – Genéticos

Os fatores genéticos parecem predispor os indivíduos ao desenvolvimento de ansiedade generalizada embora os dados de estudos com gêmeos tenham sido inconsistentes. A ansiedade generalizada compartilha uma herdabilidade comum com a depressão e com o traço de personalidade de “neuroticismo”. Essa herança genética é relacionada com o gene transportador da serotonina e também um gene do ácido glutâmico. Ambos são neurotransmissores envolvidos nas emoções e ativação do sistema nervoso central. As investigações em outros neurotransmissores como norepinefrina, 5-HT, serotonina e GABA tendem a ser inconsistentes. Estudos de provocação envolvendo inalação de dióxido de carbono de 7,5% em voluntários saudáveis sugerem o envolvimento da amígdala (região cerebral responsável por temperamento) nos sintomas e preocupação induzida.

Estudos mais recentes incluem um desequilíbrio nas substâncias anti-inflamatórias e pró-inflamatórias, com um excesso relativo de TNF-alfa e IFN-gama e deficiência relativa de IL-10.

Neuropsicológicos

Um estudo de neuroimagem demonstrou que, em pacientes ansiosos, existe um aumento relativo de funcionamento em regiões cerebrais específicas (lobo occipital, lobo temporal posterior direito, giro inferior, cerebelo e giro frontal direito) e uma diminuição absoluta no gânglios da base.

Um dado muito interessante desse estudo é que a administração de benzodiazepínicos (por exemplo rivotril) foi responsável por diminuir a atividade geral da superfície cortical, sistema límbico e gânglios da base, mas não foi associada à normalização do padrão de funcionamento dessas áreas. Um estudo de ressonância magnética funcional encontrou aumento da atividade antecipatória nas amígdalas, utilizando imagens neutras e aversivas que se aproximam, fornecendo evidências de resposta emocional antecipatória aumentada.

As investigações do processamento de informações emocionais sugerem que a ansiedade pode estar associado a vieses específicos para informações congruentes com a personalidade. Descobriu-se que os pacientes alocam muita atenção para estímulos ameaçadores, detectam ameaças de forma rápida e eficaz e interpretam erroneamente informações ambíguas como sendo ameaçadoras, particularmente quando o material de ameaça visual está em formato verbal-linguístico.

Personalidade

A ansiedade na vida adulta está associada a um número acima da média de experiências traumáticas e outros eventos indesejáveis na infância. Ela é mais provável de ocorrer em pessoas com “inibição comportamental”, que é a tendência a ser tímido. Além disso, o traço de personalidade de “neuroticismo” (ou afetividade negativa) está associado com ansiedade e depressão.

Origens cognitivas da preocupação

Muitas teorias sobre a origem e persistência da preocupação excessiva que caracterizam a ansiedade generalizada foram propostas. Como exemplos, as pessoas ansiosas podem:

  • Examinar o ambiente em busca de sinais de ameaça o tempo todo
  • Desenvolver a preocupação mediante um problema a ser resolvido
  • Usar a preocupação para evitar a resposta de medo, como mecanismo de fuga
  • Ter intolerância à incerteza ou ambiguidade
  • Não tolerar a incontrolabilidade de eventos da vida e as consequências

Sintomas - Como saber se estou com ansiedade Generalizada?

A preocupação excessiva e constante é a principal característica da ansiedade, a maioria dos pacientes apresenta outros sintomas como hiperatividade, tensão muscular, falta de sono, fadiga e dificuldade em relaxar. São comumente relatadas dores de cabeça e no pescoço, ombros e costas. Na prática clínica, geralmente observamos que esses sintomas podem ser de longa data e sem outros diagnósticos claros.

O tipo de preocupação não tem tanta importância, afinal os estudos apontam que os ansiosos compartilham das mesmas preocupações sobre saúde, família e relações interpessoais, trabalho e finanças que os não ansiosos. Geralmente o destaque está no valor excessivo que as pessoas ansiosas colocam em questões de menor peso. Pacientes com ansiedade geralmente respondem positivamente à pergunta: “Você se preocupa excessivamente com questões menores?”

Quanto tempo pode durar um quadro ansioso?

A ansiedade é considerada uma doença potencialmente crônica, com variação na gravidade dos sintomas ao longo do tempo. Estudo fornecem evidências de um curso prolongado e flutuante da doença. Um realizado nos EUA descobriu que aproximadamente 60% dos pacientes se recuperaram ao longo de 12 anos, mas cerca de metade dos pacientes recuperados tiveram recaída subsequente durante o período de 12 anos. 

Fatores de risco para Ansiedade

  • Sexo feminino
  • Pobreza
  • Eventos adversos na vida
  • Doença física crônica (respiratória, cardiovascular, metabólica, cognitiva…)
  • Transtorno mental crônico (depressão, fobia…)
  • Perda ou separação dos pais
  • Baixo suporte afetivo durante a infância
  • História de problemas mentais nos pais
Ansiedade Generalizada

Complicações de ser Ansioso

A Ansiedade está associada a problemas na saúde cardiovascular. Por alguns motivos segundo alguns estudos específicos:

Diminuição da variabilidade da frequência cardíaca e aumento da frequência cardíaca

Aumento da pressão arterial, diagnóstico de hipertensão e uso de anti-hipertensivos

Taxas mais altas de doenças coronárias fatais e não fatais, independentemente da gravidade do quadro.

Existe algum benefício no excesso de preocupação?

Definitivamente não! Nenhuma evidência foi encontrada para apoiar a alegação de que a preocupação pode ser benéfica para comportamentos de promoção da saúde, um único estudo que sugeriu isso não conseguiu demonstrar que a preocupação era duradoura e sim esporádica.

Critérios diagnósticos e Teste de Ansiedade Generalizada

Na abordagem inicial de paciente com suspeita de ansiedade podemos aplicar alguns questionários como o GAD-7 presente na ferramenta de calculadora Qx Calculate. Contudo os critérios são definidos por:

A. Ansiedade e preocupação excessivas, ocorrendo na maioria dos dias da semana por pelo menos seis meses, afetando uma série de eventos ou atividades (como trabalho ou desempenho escolar).

B. O indivíduo tem dificuldade em controlar a preocupação.

C. A ansiedade e a preocupação estão associadas a três (ou mais) dos seguintes seis sintomas:

Nota: Apenas um item é necessário para crianças.

  1. Inquietação ou sentimento tenso

  2. Ficar facilmente cansado

  3. Dificuldade de concentração ou mente ficando em branco

  4. Irritabilidade

  5. Tensão muscular

  6. Perturbação do sono (dificuldade em adormecer ou permanecer adormecido, ou sono inquieto e insatisfatório)

D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento.

E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (drogas, medicamentos…) ou outra condição médica (hipertireoidismo, distúrbios hormonais, anemia grave…).

F. O distúrbio não é melhor explicado por outro transtorno mental

Exemplos de outras condições que parecem ansiedade

Depressão – Pode estar associado a transtorno ansioso, indivíduos com depressão tendem a meditar autocriticamente sobre eventos e circunstâncias anteriores, enquanto pacientes ansiosos tendem a se preocupar com possíveis eventos futuros.

Hipocondria – Geralmente o paciente se queixa de preocupação constante com doenças.

Transtorno de pânico – Pacientes com transtorno do pânico tendem a ter pensamentos episódicos e calamitosos sobre doenças agudas com risco de vida.

Transtorno de adaptação – Geralmente ocasionado por eventos muito estressantes dentro de três meses.

Transtorno obsessivo-compulsivo – Os temas dos pacientes ansiosos tendem a ser mais preocupações do dia a dia (finanças, trabalho, saúde, família), enquanto o TOC tende a ser sobre medos mais primitivos (por exemplo, contaminação ou dano). As compulsões do TOC são tipicamente ritualísticas (tem que ser feito de uma certa maneira).

Tratamento

Existem diversos tipos de tratamentos para ansiedade, sendo que os dois mais estudados são Psicoterapia com abordagem em terapia cognitivo comportamental(TCC) e farmacoterapia. Também existem diversas evidências de terapias adjuntes que podem contribuir muito no controle dos sintomas ansiosos.

Alguns estudos sugerem que a TCC é superior à farmacoterapia, essa conclusão se baseia em comparações indiretas dos dois tratamentos. No entanto, a comparação indireta, usando tamanhos de efeito de estudos com grupos de controle diferentes, não é definidora de resultado, por esse motivo, os autores concluíram que ainda não conclusão a respeito do tema.

Saude Mental

Como escolher um tratamento eficiente?

Cada paciente é único, tem sua história de vida, preferências, personalidade, portanto deve ser avaliado individualmente sem receita de bolo, mantendo sempre um acompanhamento médico frequente, podendo optar por realizar psicoterapia, farmacoterapia ou os dois, podendo associar terapias adjuvantes para melhor eficácia do controle. A abordagem farmacológica exige obrigatoriamente o acompanhamento de um médico de preferência clínico ou psquiatra. Os tratamentos geralmente incluem medicações pscotrópicas que alteram os níveis de neurotransmissores cerebrais.

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